Igreja do Loreto
A igreja do Loreto é um edifício de grande valor arquitectónico, histórico e social. A sua construção, iniciada em 1518, tem por base a vontade e mobilização de um grupo de comerciantes italianos em Lisboa, desejosos de um espaço de culto que atendesse as necessidades espirituais de uma comunidade que, embora pequena, se revestia de grande importância económica e social para a cidade de Lisboa.
A sua localização, contígua ao limite exterior da antiga muralha fernandina e vizinha da porta de Santa Catarina, foi sempre privilegiada. Mas nem assim evitou o incêndio de 1651 e o terramoto de 1755, duas catástrofes que ditaram a sua reconstrução e o formato final com que chega aos dias de hoje. A resiliência da comunidade italiana perante as dificuldades várias que pontuam a vida dos homens e dos edifícios que estes constroem dizem muito da importância da igreja do Loreto para os lisboetas em geral e para os italianos em particular.
O trabalho de restauro e reabilitação compreendeu diversas etapas, tendo sido iniciado com o edifício contíguo à residência dos padres, no número 8 da Rua da Misericórdia, em 2001. Teve grande importância para as finanças da igreja da Nossa Senhora do Loreto, pois permitiu acrescentar pisos ao edifício e rentabilizá-los para benefício dos cofres da igreja.
Um dos grandes problemas do edifício da igreja era a cobertura. Em 2016, a cobertura foi avaliada quanto a necessidades e deficiências e um plano de intervenção foi gizado. Como consequência da degradação do telhado, a água e a humidade eram as principais causas dos estragos no edifício e no seu recheio. As infiltrações provocavam desprendimentos e quedas de reboco e argamassas e exigindo reparações pontuais com rebocos de base cimentícia. A humidade generalizada nas paredes e tectos levava à formação de manchas, eflorescências e empolamentos e subsequente degradação dos rebocos. As madeiras, principalmente na zona de apoio às asnas foram apodrecendo e acolhendo fungos. Os elementos metálicos estavam corroídos provocando tensões nos rebocos e alvenarias, causando empolamentos, fissuras e fendilhação. Os elementos de pedra, degradados devido à corrosão de elementos metálicos no seu interior, acabavam por fissurar e por comprometer a integridade estrutural do edifício. Nas paredes de alvenaria cresciam herbáceas cujas raízes provocavam a degradação dos materiais e criavam rotas de entrada de água, acentuando os efeitos desta. Nas paredes exteriores, a pintura descascava por ter sido aplicada inadequadamente ou devido à presença de rebocos insuficientemente permeáveis. As caixilharias de madeira da nave de igreja encontravam-se parcialmente apodrecidas e permitiam a entrada de água para o interior da igreja e a subsequente degradação dos revestimentos e acabamentos. O piso de esteira, em tábuas de madeira, estava desgastado, consequência da sua excessiva e inadequada utilização.
Não houve necessidade de modificar a estrutura do edifício ou o uso da mesma. As intervenções levadas a cabo foram sempre de reabilitação e de conservação. Após reparada a cobertura e os danos dela decorrentes, pintaram-se as fachadas com uma cor mais consentânea com a história de Lisboa, as portas e os elementos em ferro, limparam-se as pedras e retiraram-se os elementos invasores do edifício, como líquenes, caruncho e herbáceas.
Os interiores foram submetidos a uma criteriosa manutenção e os elementos artísticos foram restaurados por equipas especializadas. Foi um laborioso e longo empreendimento, dadas as características do edifício e a especificidade dos materiais. Alguns trabalhos, nomeadamente os do restauro da pintura do tecto, foram efectuados a dezoito metros de altura. Tudo isso foi sendo feito sem que a igreja fechasse ao público ou aos fiéis.
No que concerne a iluminação, decidiu-se tapar os janelões do lado da fachada da Rua da Misericórdia com sunscreens para evitar a entrada de luz natural e assim iniciar o restabelecimento de uma equilíbrio entre a luz recebida por cada vão. Instalaram-se fitas de LED para dotar todos os vãos com uma quantidade equivalente de luz e reparar a forma coxa como esta se acabava por reflectir na nave central. O controlo da entrada de luz natural serviu ainda para minimizar os danos causados pela luz de espectro solar nas pinturas e restantes obras de arte da igreja.
Na nave central, foi desenhada uma iluminação com estrutura elíptica, com sessenta projectores direccionais. Esta forma tem o condão de reforçar a visão daquele que é, provavelmente, o componente artístico de maior relevância da igreja, i.e., a pintura do tecto, da autoria de Pedro Alexandrino de Carvalho. Optou-se ainda por pontuar de luz as obras de arte e não os elementos arquitectónicos, acreditando que o realce dado aos primeiros acaba por beneficiar a contemplação dos segundos.
Ano
2001 - 2018
Localização
Lisboa, Portugal
Área
2340 m2
Cliente
Fábrica da Igreja do Loreto
Arquitectura
Luís Rebelo de Andrade
Entidade Consultora
DGPC
Empreiteiro Geral
Teixeira Duarte
Projecto de Reabilitação de Estruturas
A2P
Projecto de Luminotecnia
Glu
Fabricação e Instalação da Elipse
Lledo
Conservação e Restauro de Cantarias
Cruzeta
Conservação e Restauro de Estuques Tradicionais
Marco Aurélio
Conservação e Restauro de Pintura Mural
Elisa Barbosa
Conservação e Restauro de Pinturas de Telas de Cavalete
Junqueira 220
Faixa de Comemoração dos 500 Anos
Maria João Barcelos
Fotografia
João Guimarães - JG Photography
Texto
Valério Romão