Junqueira 223
O edifício sito no número 223 da Rua da Junqueira, é mais um exemplo da diversidade arquitectural que a cidade de Lisboa exibe. Os azulejos originais da fachada principal, em tons que iam do castanho ao ocre, muito degradados, deram lugar a azulejos verde pistácio. Como o prédio fica na esquina da Rua da Junqueira com uma travessa estreita, recobriu-se a fachada lateral com a reprodução de um desenho do próprio Luís Rebelo de Andrade, esperando que a presença autoral demova aqueles que procuram deixar a sua marca em parede alheia. E embora o resultado das escolhas para as fachadas seja de facto tão sóbrio como elegante, os elementos arquitectónicos mais preciosos estão no interior.
Os arcos, os tectos de gesso trabalhado, a clarabóia e os frescos foram recuperados e convivem harmoniosamente com a linguagem contemporânea que pontua o restante edifício. A sensação que perdura é a de um espaço que, tendo recebido uma infusão de presente, não deixa de respeitar e admirar a sua genealogia.
E como a arquitectura é ela própria uma janela para um modo de vida que já não existe, é de notar a estranheza de verificar que as salas estavam viradas para norte, de costas para o rio. Dir-se-á que é um pormenor de somenos. Mas isso é para quem as memórias do rio – e da violência de que este é capaz – são meramente residuais. Durante muitas gerações pós-1755, o rio significava apenas comércio e morte. E há hábitos que são difíceis de abandonar. Agora sim, agora estão no sítio certo.
Ano
2010 - 2016
Localização
Lisboa, Portugal
Área
624 m2
Cliente
Sigma Pax Investimentos
Arquitectura
Luís Rebelo de Andrade, Anna Buono, Raquel Jorge, Madalena Rebelo de Andrade
Projecto de Estruturas
Axial Engenharia
Construção
Construoeiras - Obras Públicas e Construção CIvil
Coordenação de Obra
RTNC - Eng. Rui Taborda
Fotografia
João Guimarães - JG Photography
Texto
Valério Romão